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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

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Achei esse trabalho de redação perdido nos meus arquivos...

Antes de tudo se perder

Até bem pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo, quem roubou nossa coragem? E esta música que hoje num ímpeto começou a tocar numa faixa da memória. Ela me trouxe para o estado em que estou agora, sim, achei o CD, estava mesmo comigo, quero ouvir sempre, ouvi a banda hoje antes de botar o pé na rua. Me lembrou da época em que éramos jovens famintos por justiça, mudanças sociais e todas essas outras coisas meio hippies meio bregas ou seja lá como se define hoje em dia. Mas o que a rotina não faz não é? O que o comodismo não faz? Talvez seja por isso que todos nós nos tornamos essas peças de playmobil movidos a la sociedad. Droga. Sabe quando desencadeiam incontáveis memórias pela sua cabeça em um milésimo de segundo? Pois bem, ali estava eu na mesma rotina de sempre, correndo com o carro pra tentar não chegar mais atrasada no trabalho.

Enquanto isso na minha mente fico rodeada desses devaneios sobre o quão diferentes poderiam ser as coisas se eu tivesse feito escolhas diferentes. Mas tá tudo bem, tá tudo certo. A vida é isso não é não? Seguir em frente e apagar da memória parece ser o melhor jeito de resolver as coisas. O elevador do cartório. O elevador e a parede interna do cartório são de vidro transparente verde claro, nada de filme escuro violeta, assim deixam, para o meu espanto, entrar a luz. E é todo dia a mesma coisa. Passo pelos corredores e vejo aqueles casais felizes que mesmo não podendo pagar por uma festa de casamento, juntam suas trouxinhas e são felizes assim, com o pouco que tem e não tem nada não, se não tiver a farinha pra fazer o bolo meu bem, usa maisena e vê no que vai dar. Triste eu, 32 anos, vice-presidente de um dos maiores cartórios do Rio de Janeiro, salário maior que 10 mil reais por mês, um apartamento na zona sul, sem marido, sem filhos e com dois gatos. Aliás, essa história de que as mulheres que não casam acabam morando sozinhas e com gatos, bem, não é mito. Vai saber por quê... Mas garanto ser algo notável em todas as minhas (pouquíssimas) amigas que se encontram no mesmo estado que eu.

E mais uma vez. Tá tudo bem. Repito pra mim mesma: Tá tudo bem, tá tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, talvez um dia fique, ou não. Minhas tentativas frustradas de magnetismo pessoal vão por água abaixo mais uma vez. Começo a arrumar minha mesa no trabalho e olho o céu mais azul que já vira na vida através da janela, enquanto o sol lutava pra se pôr deixando somente uma pontada de luz com um ar fresco batendo na minha face. Levantei-me, fiquei de bruços em frente à janela e falei em um sussurro para mim mesma: “Repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.” Nada. E não tinha nome pra isso não, na verdade tinha sim, mas era o nome mais sem significados de que já pudera algum dia ouvir falar. Vazio.

2 comentários:

Escapismo disfarçado de realidade.

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